Nos dias atuais
(hospitais insanos proibindo o parto humanizado, praticamente
obrigando a mulher a ser rendida por um sistema de parto normal com
1001 intervenções ou uma cesária), onde o Conselho Federal de
medicina faz apologia ao parto hospitalar e repudia o parto
domiciliar, bem como milhares de médicos adeptos à cesária, se
EMPODERAR é muito importante.
Então, como eu me
EMPODERO?
O empoderamento vem
com a informação e apoio. Se informe muito, leia o máximo que
puder, discuta com pessoas próximas sobre as informações que
adquiriu, participe de roda (conversas) para gestantes, para
puérperas, relatos de partos, converse com enfermeiras obstetras,
parteiras e doulas. Enfim, pergunte, questione e discuta sobre tudo
que tem dúvida.
Tenha ao seu lado
pessoas que apoiem sua decisão, que se informem e te acompanhem, que
seja uma pessoa da família, marido, mãe, pai, irmã, amiga, etc.
Uma pessoa que vai estar do seu lado, que vai te ouvir e que pode ser
um aliado (a) no trabalho de parto.
Eu trouxe um
excelente exemplo de empoderamento, o caso da Úrsula que no meio de
um show de horrores, conseguiu soltar um grito de basta: "meu
corpo, minhas regras" e mudou a história do nascimento de sua
filha e a sua história também.
Atenção! As linhas
a seguir contém uma história forte e linda também, prepare o lenço
de papel...
Por Úrsula Cordeiro
Consegui
parar de chorar e enfim, endossar com os meus comentários esse
relato.
Para começar eu nunca fui contra a cesariana, aliás eu
nunca fui contra nada, só me identifiquei muito com o parto normal e
quis viver isso. Quis mais do que nunca sentir a dor de uma
contração, mais do que qualquer coisa na vida eu queria que a minha
filha soubesse a hora de nascer... era um sonho! Quando por fim o
médico escolhido só para o parto - inclusive nome que consta em
listas de médicos que fazem PN de páginas relacionadas a parto
humanizado - me disse que tinha alguma chance de conseguir o normal
com indução, eu vibrei... uhuu sentiria as contrações.
Infelizmente
não foi tão fácil. Entrei na maternidade (que carinhosamente
apelidei de calabouço) com a preocupação de manter estabilizados
os índices de glicemia, mas esses graças a DEUS estavam lindos, a
preocupação, exacerbada em minha opinião, foi com uma troca de
válvula que fiz há 10 anos. Eu tenho vida normal, não tomo nada,
não preciso de nenhum cuidado, inclusive para o meu cardio o mais
recomendado no meu caso seria mesmo o PN. Na minha cabeça, tudo
certo, tudo lindo... Mesmo que fosse para a cesariana eu teria ido de
cabeça erguida, pois havia feito tudo que estava ao meu alcance...
Mero engano, eu ainda poderia fazer muito mais.
Internação,
entrevistas, pedido de exames, eco cardiograma - ok, prevenir é
melhor. Nada de nenhuma dorzinha sequer... Por volta das 17h00 uma
enfermeira entra no quarto e checa que eu não estou sentindo nada e
diz: - vamos colocar mais um comprimido as 18h00- seria o terceiro -
e se nada acontecer o Doutor vem a noite para fazer a cesárea. Ok,
eu estava ciente... Mas tinha esperança que daria certo e que eu
sentiria alguma coisa.
17h30 - a Ana, pega o resultado do eco e me
avisa: - estão recomendando uma cesariana com ANESTESIA GERAL. Oi?
Surtei! Como assim? Não! Definitivamente não. Eu não podia perder
o nascimento da minha filha. Eu não posso confiar que um médico
conseguirá tirá-la de mim em 7 minutos no máximo, sem qualquer
sequela se não temos indicação real para isso... Entrei em
pânico!
Mas estava esperando a terceira dose do comprimido... que
não veio. Questionamos e uma equipe de anestesistas veio falar
comigo, me explicaram o procedimento e eu disse que eu ligaria para o
meu cardio que aquilo era exagerado... Nada feito! Uma das
anestesistas disse em tom de superioridade: ele pode vir aqui, é
isso que faremos. Vc é nossa responsabilidade... Eu só chorava. Ok.
E se eu insistir no PARTO NORMAL? Mesmo com o PN teremos que te
aplicar analgesia precocemente, 3 cm no máximo.
Mas como alguém
que recebe analgesia com 3cm evolui? ESSE É O PROTOCOLO URSULA.
ESSE
É O PROTOCOLO. ESSE É O PROTOCOLO. ESSE É O PROTOCOLO. Eu não
ouvia outra coisa
Tentei em vão ligar para o meu cardio...
então pedi o terceiro comprimido, já estavam atrasados. E a bomba:
NÃO TERÁ OUTRO COMPRIMIDO.
NÃO? Não, seu GO pediu para
suspender.
Eu estava perdendo a força.
Meu marido ligou para
os médicos que me acompanharam no pré-natal, a Ana pediu ajuda, eu
tentei argumentar com o médico. NADA!
Eu não tinha mais o q
fazer... Tínhamos que aceitar. Junto do meu marido e da Ana,
resolvemos aceitar... Só queria que passasse logo. Outra vez a
equipe de anestesistas veio conversar, me explicar, dizer os riscos.
Eu chorava. De repente fui tomada por uma sensação de morte. Eu
tinha certeza que ou eu ou minha filha não voltaríamos de lá. Não
sei explicar, mas só senti o pior pressentimento da minha vida.
Que
injustiça, meu momento mais lindo, sendo transformado nesse
pesadelo.
Estava marcado, 22h00 cesariana no centro cirúrgico -
aliás, cesariana não, cirurgia para tirar bebe, com mãe indo para
a UTI e filha passando por todas as intervenções possíveis.
22h00
o médico chega, vem falar carinhosamente comigo, tentando em vão me
tranquilizar, dizendo que era rápido e que tiraria a Helo rapidinho
de dentro de mim. Um aperto no coração. Despedida! Agora mau marido
nem poderia entrar na sala comigo. Só veria a Helo, por um vidro
depois de nascida e eu só quando acordasse e tivesse
"condições".
Colocaram-me na maca... Eu já me sentia
num caixão. Era horrível, me sentia fraca, vitima
impotente.
Cheguei no CC, um lugar frio, muita gente de azul,
aquilo não era novo pra mim, há 10 anos eu havia ficado 7 horas
apagada numa salinha daquelas e sabia exatamente como era acordar
daquilo tudo, esse foi meu maior medo.
Começaram a mexer em mim,
me amarraram, me sondaram, começaram a pintar a barriga e a
entubação sem, sedação. Precisava ser assim para a Helo correr
menos riscos. Eu estava enjoada, fraca, estava em dieta liquida o dia
todo, exceto por um pedaço de pão que comi escondido com a ajuda da
Ana (deve ter salvado minha vida).
Primeira narina
anestesiada, um fio, segunda narina anestesiada, sensação de
respiração quase zero. Desespero. Mexi-me, revirei, perderam o
"ponto". Pediram para eu colaborar... Resignei-me, tentaram
de novo, de novo não aguentei e perguntei onde estavam registrados
os batimentos cardíacos da minha filha. Mostraram-me um monitor,
ainda estava normal, mas me lembrei daquela frase: ela sente o que vc
sente. Ahhh que for saber que ela estava como eu.
Terceira
tentativa deu certo. Conseguiram colocar xilocaína onde precisava
colocar. Gritei pelo médico, ele disse: fique tranquila estou com o
bisturi na mão. Pitaram a minha barriga... Estava perto.
O
anestesista subiu num banco, ficou em cima da minha cabeça e pediu
para eu colaborar, aquela seria a pior parte, mas depois acabaria...
Pegou um tudo, colocou na minha boca e disse: agora vc vai sentir uma
sensação de afogamento, mas vc não estará se afogando... Tentei.
Jogaram um liquido, me afoguei, vi tudo azul e nessa hora, pensei na
Helo na minha barriga, sofrendo todo aquele stress. Olhei os
batimentos cardíacos dela, lembrei di destro, ainda tínhamos tempo
e não sei da onde tirei forças para soltar o meu braço esquerdo e
arrancar o tubo da minha boca. ARRANQUEI, GRITEI CHORANDO: PARA! Eu
não quero mais, EU NÃO QUERO, vcs não podem me obrigar!!! Eu
gritava o mais alto que podia, na esperança do meu marido ouvir do
lado de fora e não deixar que me sedassem a força. Sentei rápido,
quase caí da maca... A equipe atônita. Tentaram me convencer, eu
não cedi. Eu não cederia de novo.
NAQUELA HORA A PALAVRA
EMPODERAMENTO FEZ SENTIDO PRA MIM.
Mãe e filha em ótimo
estado, não fazia sentido passar por aquilo, só pq ninguém quis
esperar o PN.
O médico saiu, a Ana entrou e eu só repetia que
não queria. O Samuel entrou na sala e era dele que eu tinha mais
medo. Pedi desculpa, falei que não dava pra mim, ele me olhou com
carinho e pediu para eu me acalmar. Pedi para me levar dali, ele
concordou, falou que ia pedir para o médico me dar alta. Eu teria
minha filha na santa casa, mas não passaria por aquilo de novo.
O
médico que disse que me daria alta volta e avisa que não poderá
fazê-la, a Maternidade não permitiria e por isso meu caso agora era
do Plantão. Ele foi embora, abandonou o caso. Ligaram para o Diretor
Obstétrico da Instituição e iriam aguardar o posicionamento dele.
Ele, médico renomado, orientou que eu descansasse aquela noite, me
liberaram uma alimentação e no dia seguinte ele falaria comigo.
Órfã! Eu tinha mais uma noite. Levaram-me para longe do Samuel, mas
nos víamos de longe e nenhum dos dois arredou o pé do campo de
visão do outro mesmo exaustos. Eu tinha medo de não cuidarem mais
de mim, pegarem birra... Mas não, continuaram com todos os cuidados
e inclusive fiz um ultrassom durante a madrugada. A Helo continuava
bem.
Sei que o relato vai ficar enorme, mas preciso citar. Durante
a madrugada chega uma gestante em trabalho de parto ativo, gritando
de dor e exigindo uma cesariana. Colocaram-na de lado e começaram o
trabalho para a anestesia. Não deu tempo... Ela estava parindo e
ouvi a médica lamentar: desculpe-me, mas não temos tempo para a
cesariana, VCP ter que ter parto normal... Levaram a mulher correndo
e naquela hora eu chorei muito, e rezei com fé e pedi para Nossa
Senhora me ajudar, pedi para Deus me abrir uma porta e me livrar.
Rezei com a maior fé do mundo e adormeci... Meu plano estava
traçado, eu precisava continuar bem para convencer o médico chefão
que estava bem e poderia esperar mais um pouco, pelo menos para
aceitar a situação. Na verdade eu queria ter tempo para ter alta...
Já estava preferindo o risco da DG a o da Anestesia Geral.
4h30 -
tive cólica, fui fazer xixi, uma gosma marrom do fundo do vaso. Putz
deve ser o tampão. Minha alegria não durou muito, pq sei que o
tampão pode sair dias antes de um TP ativo se iniciar. Mais cólicas,
e o pânico de novo: eles não podem saber que tenho cólica, vão
querer me sedar, preciso esconder.
5h30 - me levaram para o
quanto de pré-parto, eu esperaria o medico chefão lá. Mais
cólicas, eu não conseguia saber de quanto em quanto tempo. Liguei
para o marido e pedi para ele ir para o meu quarto. Ele chegou me
senti segura e pedi para ele não contar para ninguém que tinha
dores. Pedi um cardiotoco, a Helo estava bem.
6h30 – colchão
molhado, bolsa rompida, escondemos com um amontoado de lençol. Um
pouquinho de sangue e o Samuel preocupado – eu pedi mais uma vez: -
Amor é normal, confia em mim de novo. Ele se resignou.
7h00 – o
médico chefão veio falar comigo, se espantou em me encontrar calma,
lúcida e centrada (nem imagino como me descreveram pra ele). Eu só
pedi mais um tempo, mas 24 horas talvez. Ele disse sim, mas estaria
bem monitorada e qualquer alteração partiria para a cirurgia. Nessa
hora eu tinha contrações fortes, mas consegui disfarçar e assim
que ele saiu lamentei não poder gemer...
Em pouco tempo eu já
não conseguia mais disfarçar, a Ana estava chegando e eu confiava
nela, comecei a gemer, fui para a banheira, logo o quarto lotado de
novo.
A Ana chega, me ajuda, orienta, aperta o meu quadril,
me ensina a respirar e a resistir. Eu estava sentindo as dores... E a
cada contração eu agradecia a DEUS e a Nossa Senhora, era obra
deles, certeza... Pq meu cenário com todo o stress era o mais
pessimista possível.
Me examinam, incríveis 8cm de dilatação –
uau! Faltava pouco. A GO chega, dizendo várias vezes que qualquer
alteração iríamos para a cesárea. Pedi pelo amor de Deus que ela
me ajudasse a tentar de todas as formas... acho que ela se
sensibilizou. Mas meu marido autorizou o fórceps ou episio se fosse
necessário. NÃO FOI.
Fomos para a sala de parto, dessa vez minha
enfermeira e marido estavam juntos. O anestesista me convenceu a
tomar analgesia, aceitei, já estava com 9, mas não queria perder a
sensibilidade. Anestesiaram, perdi a sensibilidade, injetaram
oxitocina, voltei a sentir.
Trabalho ativo, dilatação
avançada, contrações ritmadas e a Helo muito “alta”. Fiz força
de novo... não sei da onde tirei de novo, afinal a alimentação
ainda não estava lá essas coisas e tendo o dia anterior sido o pior
da minha vida... mas estávamos mudando e esse com certeza seria o
melhor dos dias. Fiz força, mas muita força e as 11h25 ela nasceu,
ouvi seu choro e senti o calor do seu corpo imediatamente. Ela foi
colocada sobre a minha barriga, apertei , abracei, a Ana me lembrou
de cheirar, cheirei e nunca vou esquecer aquele cheiro doce, quis
lamber, quais apertar, coloquei no peito ela sugou, mas nem sei se
saiu alguma coisa.
Tiraram ela de mim, fizeram tudo errado,
aspiraram, não respeitaram o plano de parto. Mas ok estava no
lucro.
Mais uma separação, dessa vez de 30 horas, fui para a UTI
por “precaução”. No dia seguinte, não me devolveram ela.
Precisamos ir buscar na neonatal. Deram mamadeira, lotaram de
hipoglós e aquilo doeu de novo. Ela estava na incubadora, sem
nenhuma necessidade, pedi para tirarem e disse que minha filha
precisava mais do meu calor do que do calor da incubadora. Conversei,
ponderei, precisei de novo convencer e enfim liberaram meu bebe.
Perdemos um vinculo importante, ainda estamos recuperando... Passamos
a noite juntas, levaram para o berçário, mas fui buscar. Já
tivemos alta no dia seguinte, quando deslacraram a minha pulseira e a
dela, o choro foi inevitável... chorei muito, sensação de
renascimento, prontas para deixar tudo ali... O dia mais triste da
minha vida ficaria eu só levaria o mais feliz...
Por último o
manobrista brinca com o Samuel e pergunta: quando vcs voltam para
buscar o outro? Nós dois rimos, nos olhamos e pensamos mentalmente:
Aqui? Acho que nunca!
Eu e Helo, dispensamos todas as visitas
nessa semana, foi o melhor que fizemos, estamos em lua de leite. O
começo não é fácil, mas já estamos entrando nos eixos.


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