segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Entenda o EMPODERAMENTO


Nos dias atuais (hospitais insanos proibindo o parto humanizado, praticamente obrigando a mulher a ser rendida por um sistema de parto normal com 1001 intervenções ou uma cesária), onde o Conselho Federal de medicina faz apologia ao parto hospitalar e repudia o parto domiciliar, bem como milhares de médicos adeptos à cesária, se EMPODERAR é muito importante. 

Então, como eu me EMPODERO?

O empoderamento vem com a informação e apoio. Se informe muito, leia o máximo que puder, discuta com pessoas próximas sobre as informações que adquiriu, participe de roda (conversas) para gestantes, para puérperas, relatos de partos, converse com enfermeiras obstetras, parteiras e doulas. Enfim, pergunte, questione e discuta sobre tudo que tem dúvida.

Tenha ao seu lado pessoas que apoiem sua decisão, que se informem e te acompanhem, que seja uma pessoa da família, marido, mãe, pai, irmã, amiga, etc. Uma pessoa que vai estar do seu lado, que vai te ouvir e que pode ser um aliado (a) no trabalho de parto.

Eu trouxe um excelente exemplo de empoderamento, o caso da Úrsula que no meio de um show de horrores, conseguiu soltar um grito de basta: "meu corpo, minhas regras" e mudou a história do nascimento de sua filha e a sua história também.

Atenção! As linhas a seguir contém uma história forte e linda também, prepare o lenço de papel...





Por Úrsula Cordeiro

Consegui parar de chorar e enfim, endossar com os meus comentários esse relato.
Para começar eu nunca fui contra a cesariana, aliás eu nunca fui contra nada, só me identifiquei muito com o parto normal e quis viver isso. Quis mais do que nunca sentir a dor de uma contração, mais do que qualquer coisa na vida eu queria que a minha filha soubesse a hora de nascer... era um sonho! Quando por fim o médico escolhido só para o parto - inclusive nome que consta em listas de médicos que fazem PN de páginas relacionadas a parto humanizado - me disse que tinha alguma chance de conseguir o normal com indução, eu vibrei... uhuu sentiria as contrações.



Infelizmente não foi tão fácil. Entrei na maternidade (que carinhosamente apelidei de calabouço) com a preocupação de manter estabilizados os índices de glicemia, mas esses graças a DEUS estavam lindos, a preocupação, exacerbada em minha opinião, foi com uma troca de válvula que fiz há 10 anos. Eu tenho vida normal, não tomo nada, não preciso de nenhum cuidado, inclusive para o meu cardio o mais recomendado no meu caso seria mesmo o PN. Na minha cabeça, tudo certo, tudo lindo... Mesmo que fosse para a cesariana eu teria ido de cabeça erguida, pois havia feito tudo que estava ao meu alcance... Mero engano, eu ainda poderia fazer muito mais.

Internação, entrevistas, pedido de exames, eco cardiograma - ok, prevenir é melhor. Nada de nenhuma dorzinha sequer... Por volta das 17h00 uma enfermeira entra no quarto e checa que eu não estou sentindo nada e diz: - vamos colocar mais um comprimido as 18h00- seria o terceiro - e se nada acontecer o Doutor vem a noite para fazer a cesárea. Ok, eu estava ciente... Mas tinha esperança que daria certo e que eu sentiria alguma coisa.

17h30 - a Ana, pega o resultado do eco e me avisa: - estão recomendando uma cesariana com ANESTESIA GERAL. Oi? Surtei! Como assim? Não! Definitivamente não. Eu não podia perder o nascimento da minha filha. Eu não posso confiar que um médico conseguirá tirá-la de mim em 7 minutos no máximo, sem qualquer sequela se não temos indicação real para isso... Entrei em pânico!

Mas estava esperando a terceira dose do comprimido... que não veio. Questionamos e uma equipe de anestesistas veio falar comigo, me explicaram o procedimento e eu disse que eu ligaria para o meu cardio que aquilo era exagerado... Nada feito! Uma das anestesistas disse em tom de superioridade: ele pode vir aqui, é isso que faremos. Vc é nossa responsabilidade... Eu só chorava. Ok. E se eu insistir no PARTO NORMAL? Mesmo com o PN teremos que te aplicar analgesia precocemente, 3 cm no máximo.
Mas como alguém que recebe analgesia com 3cm evolui? ESSE É O PROTOCOLO URSULA.
ESSE É O PROTOCOLO. ESSE É O PROTOCOLO. ESSE É O PROTOCOLO. Eu não ouvia outra coisa 
Tentei em vão ligar para o meu cardio... então pedi o terceiro comprimido, já estavam atrasados. E a bomba: NÃO TERÁ OUTRO COMPRIMIDO. 
NÃO? Não, seu GO pediu para suspender.
Eu estava perdendo a força.
Meu marido ligou para os médicos que me acompanharam no pré-natal, a Ana pediu ajuda, eu tentei argumentar com o médico. NADA!
Eu não tinha mais o q fazer... Tínhamos que aceitar. Junto do meu marido e da Ana, resolvemos aceitar... Só queria que passasse logo. Outra vez a equipe de anestesistas veio conversar, me explicar, dizer os riscos. Eu chorava. De repente fui tomada por uma sensação de morte. Eu tinha certeza que ou eu ou minha filha não voltaríamos de lá. Não sei explicar, mas só senti o pior pressentimento da minha vida.

Que injustiça, meu momento mais lindo, sendo transformado nesse pesadelo.
Estava marcado, 22h00 cesariana no centro cirúrgico - aliás, cesariana não, cirurgia para tirar bebe, com mãe indo para a UTI e filha passando por todas as intervenções possíveis.
22h00 o médico chega, vem falar carinhosamente comigo, tentando em vão me tranquilizar, dizendo que era rápido e que tiraria a Helo rapidinho de dentro de mim. Um aperto no coração. Despedida! Agora mau marido nem poderia entrar na sala comigo. Só veria a Helo, por um vidro depois de nascida e eu só quando acordasse e tivesse "condições".
Colocaram-me na maca... Eu já me sentia num caixão. Era horrível, me sentia fraca, vitima impotente.
Cheguei no CC, um lugar frio, muita gente de azul, aquilo não era novo pra mim, há 10 anos eu havia ficado 7 horas apagada numa salinha daquelas e sabia exatamente como era acordar daquilo tudo, esse foi meu maior medo.
Começaram a mexer em mim, me amarraram, me sondaram, começaram a pintar a barriga e a entubação sem, sedação. Precisava ser assim para a Helo correr menos riscos. Eu estava enjoada, fraca, estava em dieta liquida o dia todo, exceto por um pedaço de pão que comi escondido com a ajuda da Ana (deve ter salvado minha vida). 
Primeira narina anestesiada, um fio, segunda narina anestesiada, sensação de respiração quase zero. Desespero. Mexi-me, revirei, perderam o "ponto". Pediram para eu colaborar... Resignei-me, tentaram de novo, de novo não aguentei e perguntei onde estavam registrados os batimentos cardíacos da minha filha. Mostraram-me um monitor, ainda estava normal, mas me lembrei daquela frase: ela sente o que vc sente. Ahhh que for saber que ela estava como eu.
Terceira tentativa deu certo. Conseguiram colocar xilocaína onde precisava colocar. Gritei pelo médico, ele disse: fique tranquila estou com o bisturi na mão. Pitaram a minha barriga... Estava perto.

O anestesista subiu num banco, ficou em cima da minha cabeça e pediu para eu colaborar, aquela seria a pior parte, mas depois acabaria... Pegou um tudo, colocou na minha boca e disse: agora vc vai sentir uma sensação de afogamento, mas vc não estará se afogando... Tentei. Jogaram um liquido, me afoguei, vi tudo azul e nessa hora, pensei na Helo na minha barriga, sofrendo todo aquele stress. Olhei os batimentos cardíacos dela, lembrei di destro, ainda tínhamos tempo e não sei da onde tirei forças para soltar o meu braço esquerdo e arrancar o tubo da minha boca. ARRANQUEI, GRITEI CHORANDO: PARA! Eu não quero mais, EU NÃO QUERO, vcs não podem me obrigar!!! Eu gritava o mais alto que podia, na esperança do meu marido ouvir do lado de fora e não deixar que me sedassem a força. Sentei rápido, quase caí da maca... A equipe atônita. Tentaram me convencer, eu não cedi. Eu não cederia de novo.

NAQUELA HORA A PALAVRA EMPODERAMENTO FEZ SENTIDO PRA MIM. 

Mãe e filha em ótimo estado, não fazia sentido passar por aquilo, só pq ninguém quis esperar o PN.
O médico saiu, a Ana entrou e eu só repetia que não queria. O Samuel entrou na sala e era dele que eu tinha mais medo. Pedi desculpa, falei que não dava pra mim, ele me olhou com carinho e pediu para eu me acalmar. Pedi para me levar dali, ele concordou, falou que ia pedir para o médico me dar alta. Eu teria minha filha na santa casa, mas não passaria por aquilo de novo.
O médico que disse que me daria alta volta e avisa que não poderá fazê-la, a Maternidade não permitiria e por isso meu caso agora era do Plantão. Ele foi embora, abandonou o caso. Ligaram para o Diretor Obstétrico da Instituição e iriam aguardar o posicionamento dele. Ele, médico renomado, orientou que eu descansasse aquela noite, me liberaram uma alimentação e no dia seguinte ele falaria comigo. Órfã! Eu tinha mais uma noite. Levaram-me para longe do Samuel, mas nos víamos de longe e nenhum dos dois arredou o pé do campo de visão do outro mesmo exaustos. Eu tinha medo de não cuidarem mais de mim, pegarem birra... Mas não, continuaram com todos os cuidados e inclusive fiz um ultrassom durante a madrugada. A Helo continuava bem.

Sei que o relato vai ficar enorme, mas preciso citar. Durante a madrugada chega uma gestante em trabalho de parto ativo, gritando de dor e exigindo uma cesariana. Colocaram-na de lado e começaram o trabalho para a anestesia. Não deu tempo... Ela estava parindo e ouvi a médica lamentar: desculpe-me, mas não temos tempo para a cesariana, VCP ter que ter parto normal... Levaram a mulher correndo e naquela hora eu chorei muito, e rezei com fé e pedi para Nossa Senhora me ajudar, pedi para Deus me abrir uma porta e me livrar. Rezei com a maior fé do mundo e adormeci... Meu plano estava traçado, eu precisava continuar bem para convencer o médico chefão que estava bem e poderia esperar mais um pouco, pelo menos para aceitar a situação. Na verdade eu queria ter tempo para ter alta... Já estava preferindo o risco da DG a o da Anestesia Geral.
4h30 - tive cólica, fui fazer xixi, uma gosma marrom do fundo do vaso. Putz deve ser o tampão. Minha alegria não durou muito, pq sei que o tampão pode sair dias antes de um TP ativo se iniciar. Mais cólicas, e o pânico de novo: eles não podem saber que tenho cólica, vão querer me sedar, preciso esconder. 
5h30 - me levaram para o quanto de pré-parto, eu esperaria o medico chefão lá. Mais cólicas, eu não conseguia saber de quanto em quanto tempo. Liguei para o marido e pedi para ele ir para o meu quarto. Ele chegou me senti segura e pedi para ele não contar para ninguém que tinha dores. Pedi um cardiotoco, a Helo estava bem.
6h30 – colchão molhado, bolsa rompida, escondemos com um amontoado de lençol. Um pouquinho de sangue e o Samuel preocupado – eu pedi mais uma vez: - Amor é normal, confia em mim de novo. Ele se resignou.
7h00 – o médico chefão veio falar comigo, se espantou em me encontrar calma, lúcida e centrada (nem imagino como me descreveram pra ele). Eu só pedi mais um tempo, mas 24 horas talvez. Ele disse sim, mas estaria bem monitorada e qualquer alteração partiria para a cirurgia. Nessa hora eu tinha contrações fortes, mas consegui disfarçar e assim que ele saiu lamentei não poder gemer...

Em pouco tempo eu já não conseguia mais disfarçar, a Ana estava chegando e eu confiava nela, comecei a gemer, fui para a banheira, logo o quarto lotado de novo. 
A Ana chega, me ajuda, orienta, aperta o meu quadril, me ensina a respirar e a resistir. Eu estava sentindo as dores... E a cada contração eu agradecia a DEUS e a Nossa Senhora, era obra deles, certeza... Pq meu cenário com todo o stress era o mais pessimista possível.
Me examinam, incríveis 8cm de dilatação – uau! Faltava pouco. A GO chega, dizendo várias vezes que qualquer alteração iríamos para a cesárea. Pedi pelo amor de Deus que ela me ajudasse a tentar de todas as formas... acho que ela se sensibilizou. Mas meu marido autorizou o fórceps ou episio se fosse necessário. NÃO FOI.
Fomos para a sala de parto, dessa vez minha enfermeira e marido estavam juntos. O anestesista me convenceu a tomar analgesia, aceitei, já estava com 9, mas não queria perder a sensibilidade. Anestesiaram, perdi a sensibilidade, injetaram oxitocina, voltei a sentir. 
Trabalho ativo, dilatação avançada, contrações ritmadas e a Helo muito “alta”. Fiz força de novo... não sei da onde tirei de novo, afinal a alimentação ainda não estava lá essas coisas e tendo o dia anterior sido o pior da minha vida... mas estávamos mudando e esse com certeza seria o melhor dos dias. Fiz força, mas muita força e as 11h25 ela nasceu, ouvi seu choro e senti o calor do seu corpo imediatamente. Ela foi colocada sobre a minha barriga, apertei , abracei, a Ana me lembrou de cheirar, cheirei e nunca vou esquecer aquele cheiro doce, quis lamber, quais apertar, coloquei no peito ela sugou, mas nem sei se saiu alguma coisa.

Tiraram ela de mim, fizeram tudo errado, aspiraram, não respeitaram o plano de parto. Mas ok estava no lucro.
Mais uma separação, dessa vez de 30 horas, fui para a UTI por “precaução”. No dia seguinte, não me devolveram ela. Precisamos ir buscar na neonatal. Deram mamadeira, lotaram de hipoglós e aquilo doeu de novo. Ela estava na incubadora, sem nenhuma necessidade, pedi para tirarem e disse que minha filha precisava mais do meu calor do que do calor da incubadora. Conversei, ponderei, precisei de novo convencer e enfim liberaram meu bebe. Perdemos um vinculo importante, ainda estamos recuperando... Passamos a noite juntas, levaram para o berçário, mas fui buscar. Já tivemos alta no dia seguinte, quando deslacraram a minha pulseira e a dela, o choro foi inevitável... chorei muito, sensação de renascimento, prontas para deixar tudo ali... O dia mais triste da minha vida ficaria eu só levaria o mais feliz...
Por último o manobrista brinca com o Samuel e pergunta: quando vcs voltam para buscar o outro? Nós dois rimos, nos olhamos e pensamos mentalmente: Aqui? Acho que nunca!
Eu e Helo, dispensamos todas as visitas nessa semana, foi o melhor que fizemos, estamos em lua de leite. O começo não é fácil, mas já estamos entrando nos eixos.


Meu eterno agradecimento a Ana Lucia Paula Codonho que era a minha esperança e em quem eu confiava e ao meu incansável Samuca Barros que confiou, apoiou, me entendeu e posso dizer seguramente, pariu junto comigo. Agora está se tornando um pai incrivel...



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