Tudo começou na descoberta de uma gravidez, "never" esperada, foi um susto, foi um choque, mas na verdade foi um charminho. Abracei a causa e descobri a magia de gerar um ser no ventre, me emocionei ao ouvir os primeiros batimentos do bebê, fiquei toda animada em ver aquela coisinha minúscula pulando e começando a tomar forma, mas existia uma pulga atrás da orelha, de que como poderia nenhuma mulher conseguir ter esse tipo de parto, todas as pessoas que conhecia, que diziam que queriam ter um parto normal, ocorreu algum drama e foram obrigadas a fazer cesária, como pode ninguém mais conseguir parir, mas e “azindia”, as mulheres que tem bebê dentro de ônibus, na rua e até a mais recente que teve no metrô, porque a natureza dessas funcionaram e todas as outras não??
Percebi que a pulguinha virou um elefante, que por trás desses partos dramáticos existe um sistema de cesária, que seja o mais rápido possível, que é mais lucrativo, que incomoda menos, que dá menos trabalho. Com esse elefante comecei a minha busca, como boa teimosa que sou, não poderia aceitar ter meu parto entregue, meu corpo foi feito para isso e assim ele funcionária.
No início da gestação, quando estava quase pirando achando que cairia nas garras do sistema, descobri a profissão de Doula, nesse ser encontrei o apoio que precisava para continuar minha busca, descobri que era possível sim ter o parto que desejava, mas que teria que lutar, não poderia esperar para o “vamos ver se consigo um parto normal”. Foi sofrido eu confesso, passar por médicos que me desrespeitaram, ter medo de ser enganada, com o fantasma da cesária rondando a cada consulta com o obstetra, que aliás troquei várias vezes.
A principio queria um parto normal, poderia ter epsio? Sim claro todas passam por isso; Poderia ter anestesia? Sim, por favor, uma dose não faria mal a ninguém, mas a teimosa aqui foi ler mais e descobriu a violência obstétrica, que esses procedimentos não deveriam ser regras e sim exceções. Nas minhas pesquisas do mundo dos partos, descobri a casa de parto, opa! um local equipado, com filosofia de humanização, parto natural, então teimei mais uma vez, decide que era na casa de parto que aconteceria.
O maridão que foi super parceiro em toda a gestação, ficou um pouco preocupado, afinal não é comum ir para um lugar que não tem médico, o modelo de parto hoje em dia é hospitalar, mas as pessoas esquecem que antigamente os bebês nasciam no aconchego do seu lar, rodeado de pessoas queridas. Como então meu marido mudou de ideia com relação ao local? Ele mudou após ouvir o relato de um parto acompanhado por um médico e então ele percebeu que o parto não é do médico, não é do hospital e não é da enfermeira, o parto é da mulher, ela é a protagonista, ela é que dita as regras, as pessoas apenas acompanham.
Nesse meio tempo, de parto, luta contra sistema, médicos cesaristas, descobrimos que fomos abençoados com uma menina, Eduarda ela seria, já tínhamos escolhido seu nome, logo no começo da gravidez, somos muito práticos hehehe... A gestação foi maravilhosa, existia aquele brilho no olhar, sorrisos inesperados, que brotava de lá de dentro e alegria imensa de sentir dia após dia a barriga crescer e os chutes, que eram muitos.
Então na madrugada do dia 18 de fevereiro a Eduarda deu os primeiros sinais de que estava pronta para vir ao mundo, na madrugada comecei a sentir as famosas contrações, que todos falavam, mas que para mim era muito subjetivo, por orientação da Doula fui para o chuveiro, lá fiquei por uns 40 min, com sentimentos mistos de ansiedade, alegria, nervosismo e esperança. Após sair do banho as contrações continuaram no ritmo a cada oito ou cinco minutos, o marido, aquela pessoa que eu achei que se desesperaria quando chegasse o momento, nem se abalou quando acordei para mostrar que tinha saído o tampão, ele muito animado voltou a dormir. Eu fui madrugada a dentro, deitada, minha filha e eu, nos preparando para o início da nossa jornada, por volta das 5 da manhã decidimos ir para casa de parto, se estivesse realmente em trabalho de parto ficaria, caso contrário voltaria para casa. Lá descobrimos uma bolsa rompida, contrações a cada cinco minutos e quatro centímetro de dilatação, então ficaríamos, esse seria o dia da nossa pequena, um início muito relax, cantei, fiz piada, entrei no facebook e caminhei, caminhei com a minha Doula, falamos de parto, falamos da vida, falei mal do filme que assisti um dia antes, a Duda estacionou, a dilatação parou e a realidade de tudo aquilo se instalou, cai em terra, bolsa rota e sem evolução, foi sugerido colocar ocitocina sintética para "auxiliar" no trabalho de parto.
O sorriso foi embora e o choro veio, junto com ele veio o medo do que poderia acontecer, medo de ir para o hospital, medo de sofrer violência, medo de ser cortada, medo de ser tirado o meu direito de parir, de trazer a minha filha de forma humana, respeitosa e nos braços do meu marido encontrei o apoio, suporte e carinho que precisava para mandar aqueles pensamentos para bem longe, por fim entramos na "partolândia", aquele mundo da ocitocina, perdida no tempo e espaços. Agora me lembro desse momento como uma dança, a dança do nascimento, movimentos sincronizados na chegada de cada contrações, uma dança a três, Eduarda, meu marido e eu, nós movimentando juntos, nos tornando uma família, nos difundindo, momento lindo, único e maravilhoso, mas vão me perguntar, nossa tudo muito bonito isso.
Eai, não doeu??? Sim, sim, sim, doeu muito, gritei, chorei, pedi anestesia porque achei que não aguentaria, queria ser colocada na ambulância e ser anestesiada, mas a teimosa entrou em ação, ela não deixou, no momento que foi oferecido essa oportunidade de ir para o hospital, a teimosa disse não, ali ficaríamos até a duda chegar. Em um momento qualquer, no meio daquele emaranhado de sentimentos, ações, atitudes, veio a vontade de fazer força, a Eduarda já estava cansada da brincadeira, achou que estava na hora de dar uma espiada do lado de fora e lá começamos o inicio do fim e o começo de tudo, meu marido de um lado segurando a minha mão e a Doula do outro lado, ambos transferindo suas energias, para se transformar em força para o expulsivo.
A duda fez sua estréia, veio para os meus braços com muito amor, carinho, lágrimas, suor e ali permaneceu no calor do meu corpo, me ajudando no nascimento da placenta, que eu nem senti acontecer. Certamente o momento que mais vou me lembrar, o agradecimento por ela vir saudável, por sermos respeitadas e acolhidas no nosso nascimento, na minha ruptura de mulher para mãe e assim começou as aventuras de uma mãe teimosa, que teimou em ter o parto do jeito que queria, que teimou em ser respeitada e que teimou em querer nascer da forma mais linda e cheia de amor.
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| O momento que fez tudo valer à pena. |
